Zohran Mamdani acaba de ter uma vitória histórica nas eleições para prefeito de Nova Iorque.
É claro, isso pouco influencia nas nossas vidas.
Mas é essencial entender como um socialista democrata se tornou prefeito do centro financeiro dos Estados Unidos na era de Donald Trump.
Muita gente vai falar da comunicação de Mamdani, que é, sim, um fenômeno por si só. Mas, pros progressistas brasileiros que pretendem emular o formato dessa comunicação sem se atentar ao conteúdo no ano que vem, desejo muita sorte.
Pois Mamdani fez uma campanha única, baseada em mover os afetos e desejos de seus eleitores.
É óbvio, os bolsonaristas também fazem isso. O ódio também é um afeto e a violência também é um desejo.
A diferença reside em quais afetos e desejos a esquerda precisa mover pra ter algum sucesso.
Mamdani falou da vontade dos trabalhadores de morar e comer bem. Propôs congelar aluguéis, construir moradia e usar dinheiro público pra fornecer alimentos de qualidade mais baratos pra população em supermercados estatais.
Falou do desejo de se viver a cidade, e não consumi-la ou ser consumido por ela. Propôs investir na tarifa zero no transporte, em parques públicos e instituições culturais.
E falou, sim, de proteger as famílias, TODAS as famílias. Falou de oferecer creches gratuitas, falou contra a violência policial, falou de impedir que a autoridade migratória de Trump atue em Nova Iorque e falou de financiamento público pra saúde da população LGBTQIA+.
E, pros grandes "analistas" que dizem que, pra esquerda vencer, ela precisa deixar de ser esquerda:
Mamdani não apenas venceu dizendo tudo isso, como venceu dizendo que tudo isso vai ser financiado taxando as grandes fortunas, e sem medo de sair em foto com pessoas trans, de defender o aborto legal público e gratuito ou de denunciar, num debate televisionado, os casos de assédio sexual e violência de gênero de seu adversário, Andrew Cuomo.
Mamdani venceu pois mostrou que a prosperidade comum e o bem de todas as pessoas é, sim, um desejo capaz de nos mover e afetar mais do que a ideia capitalista de enriquecimento individual, seletivo e discriminatório.