Fala querido, três coisas me chamaram a atenção lendo essa revisão:
1) Inclusão de múltiplos delineamentos de estudo na revisão sistemática. Isso pode inflar o tamanho de efeito e tornar a estimativa pontual da metanálise difícil (ou impossível) de interpretar por causa da heterogeneidade.
É positivo que tenham separado em RCTs e não experimentais, os próprios resultados mostram efeitos maiores nos estudos quase-experimentais (QSEs), o que sugere possível viés de confusão e de seleção neles e exemplifica o ponto.
O mesmo vale para misturar transtornos diferentes, populações muito distintas e intervenções heterogêneas numa única síntese. Revisão sistemática é um ótimo delineamento de estudo pra compilar as melhores evidências disponíveis mas o ideal é que compilemos estudos similares.
Um exemplo didático: se uma metanálise agrega “eficácia de tratamentos para câncer” indistintamente, a estimativa pontual não informa a decisão clínica em nenhum cenário específico, porque a heterogeneidade clínica e metodológica pode explicar boa parte (ou todo) do efeito agregado.
2) A ausência do sistema GRADE é um problema relevante, pois limita a avaliação da certeza da evidência, com a mistura de delineamentos e potenciais vieses, a certeza provavelmente seria baixa ou muito baixa.
Inclusive é ativamente recomendado o uso. Por basicamente todos os lugares que orientam como conduzir RS de qualidade.
3) Além disso, o ideal para avaliar risco de viés em ensaios clínicos randomizados é a ferramenta RoB 2 (Cochrane).
É bem difícil de acreditar que alguém fazendo uma revisão sistemática não sabe sobre o problema da heterogeneidade, como avaliar o grau de certeza e o risco de viés em revisões sistemáticas. Vou ler com mais calma, mas me parece suspeito esse resultado.
Também não temos como interpretar a SMD relativamente ao benefício mínimo considerado como clinicamente significativo, geralmente validado para escalas específicas. Ou seja, mesmo que estatisticamente significativo, alto grau de certeza (extremamente improvável) e baixo risco de viés (teria que analisar o risco com a ferramenta apropriada, mas habitualmente quando não usam ela é porque os estudos têm alto risco) — pode sequer ser clinicamente significativo.
Vale deixar claro que não sei nada sobre cetogênica para depressão, estou falando somente sobre a revisão. Só um comentário de quem se dedicado bastante a estudar revisões sistemáticas recentemente!
Eu teria bastante cuidado com esse resultado. Se chegar a mais alguma conclusão depois de esmiuçar com calma trago também pro debate. Grande abraço 🤝